Existiu um seringueiro viúvo que acordava às 6 da manhã e trabalhava o dia inteiro riscando seringa, e só parava tarde da noite. |
Ele tinha um filho lindo, de poucos meses e um tigre, seu amigo, tratado como bicho de estimação e de sua total confiança.
Todos os dias o seringueiro ia trabalhar e deixava o tigre cuidando de seu filho.
Todas as noites ao retornar do trabalho, o tigre ficava feliz com sua chegada.
Os vizinhos do seringueiro alertavam que o tigre era um bicho, um animal selvagem, e portando, não era confiável.
Quando ele sentisse fome comeria a criança.
O seringueiro sempre retrucando com os vizinhos falava que isso era uma grande bobagem.
O tigre era seu amigo e jamais faria isso.
Os vizinhos insistiam:
- "Seringueiro abra os olhos! O tigre vai comer seu filho”.
- "Quando sentir fome comerá seu filho!
Um dia o seringueiro muito exausto do trabalho e muito cansado desses comentários ao chegar em casa viu o tigre sorrindo como sempre e sua boca totalmente ensangüentada...
O seringueiro suou frio e sem pensar duas vezes acertou o machado na cabeça do tigre...
Ao entrar no quarto desesperado, encontrou seu filho no berço dormindo tranqüilamente e ao lado do berço um lobo morto...
O seringueiro enterrou o machado e o tigre juntos.
Se você confia em alguém, não importa o que os outros pensem a respeito, siga sempre o seu caminho e não se deixe influenciar...
E principalmente não tome decisões precipitadas...
Autor: João do Rozario Lima
Lixos na Praia
Um mendigo que morava embaixo de uma ponte numa praia tranqüila,
junto a uma colônia de pescadores.
Toda a manhã passeava a beira-mar
para sentir a brisa e sonhar que um dia sua vida poderia ser melhor e de tarde ficava entre as caixas de papelão pensando o que poderia ser o amanhã.
Um dia, caminhando na praia,
ele viu uma pessoa que parecia dançar.
Quando chegou perto viu que era um jovem
pegando na areia os lixos jogados, um por um,
e jogando nas lixeiras fixado ao lado da praia.
Chegou perto e disse: - Por que você está fazendo isso?
- Você não vê? Disse o jovem.
- A praia está imunda de sujeira e o sol está brilhando.
- Se eu não fizer isso a cada dia a praia ficará mais suja ainda.
O mendigo riu e disse ao jovem:
- Meu jovem, existe milhares de quilômetros de praias
por este mundo afora
e centenas de milhares de lixos jogados nas praias.
- Que diferença faz, você joga um pouco de volta na lixeira
e as pessoas jogarão novamente.
O jovem pegou mais uma garrafa plástica na areia,
colocou na lixeira, olhou para o mendigo e disse:
-Mas para a preservação desta praia eu fiz a diferença...
Naquela noite o mendigo não conseguiu dormir nem sequer sonhar.
De manhãzinha foi para a praia, reuniu-se ao jovem,
e juntos juntaram os lixos limpando a beira do mar.
Podemos fazer deste universo um lugar melhor para vivermos.
Fazendo cada um a sua parte.
Fazendo cada um a diferença.
Autor: João do Rozario Lima
A Menina e o Principe Encantado
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Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta,
vão embora para nunca mais voltar.
Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor.
Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.
Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
A menina tocou em suas penas e o pássaro se transformou em um lindo príncipe.
- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você...
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. E ela dizia você é um lindo príncipe fique comigo não vai embora nunca mais.E ele cantava e contava suas histórias, até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
pela madrugada ele transformava-se em pássaro novamente e voava pela imensidão do céu.
Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.
Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as estórias.
A menina amava aquele pássaro sabendo que não era apenas um pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
- Tenho que ir, ele dizia.
Beijava a menina com a pontinha do bico e sumia no azul do céu novamente dizendo com voz de vento, preciso ir.
- Ela choramingando dizia, por favor, não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar...
- Eu também terei saudades, dizia o pássaro entre as nuvens. Eu também vou chorar. Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades.
Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
Quase não dava para ouvir sua voz de tão distante que se encontrava.
Assim ele partiu. A menina sozinha chorava de tristeza à noite. Imaginando se o pássaro voltaria.
E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz.
Com estes pensamentos comprou umas lindas gaiolas, próprias para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu.
Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.
- Ah! Menina... Que é que você fez Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...
Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu.
O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar.
Tornou-se um jovem triste e rude.
Também a menina se entristeceu.
Não, aquele não era o pássaro que ela amava.
E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo...
Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola.
- Pode ir, meu príncipe, volte quando quiser...
- Obrigada menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar.
Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar...
E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia.
- Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...
E cada vez que ele a voltava acariciava suas lindas penas ele se transformava em um lindo príncipe e a beijava, e ela sorria de felicidade.
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos.
- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje!
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando.
De algum lugar ele haveria de voltar.
Ah! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto um príncipe encantado que se ama...
E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.
- Quem sabe ele voltará amanhã...
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
Autor: João do Rozario Lima
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