segunda-feira, 7 de março de 2011

Charalina

Era uma senhora chamada Josefina, desde menina tinha mania de botar nome em todas as coisas.

Bastava olhar um caldeirão para chamá-lo de Bastião.

Olhava para uma panela e chamava de Amélia.

E, por essa estranha mania, dona Josefina tinha uma chaleira que se chamava Charalina.

Coisas e nomes loucos de dona Josefina. É claro!

Pois a panela que se chamava Amélia, só servia para fazer arroz e logo depois era lavada e guardada, enquanto a esforçada Charalina quase abria o bico de tanto trabalhar, do fogo de lá para o fogo de cá.

Fervia a água para a mulher fazer o café, cozia o ovo pro menino mais novo, fervia, depois, água pro arroz.

Sem atraso fervia água pra lavar os pratos.

Também, mais uma vez, fervia água pro chá das três, e pro Zé, prá não dar chulé, fervia água pra lavar o pé.

Mas, a Charalina, que devia se chamar divina, não abria o bico e só chiava quando fervia.

Até que um dia, quando ninguém esperava, surgiu um buraquinho, no fundo da Charalina, por onde a água vazava.

E a dona Josefina gritou, chiou, ferveu, falou mal e jogou a velha chaleira no fundo do quintal.

A Charalina, contudo, que deveria ficar uma fera, só ficou chorosa, próxima a um monte de terra:

__ Eu trabalhei todos os dias da minha vida, merecia melhor aposentadoria!

No outro dia, depois da janta, começou uma chuva forte... e choveu a noite inteira.

Com a chuva, que era tanta, a terra toda do monte escorreu para a chaleira, que fora jogada sem tampa.

Depois de alguns dias, a Charalina sentia que, na sua barriga, alguma coisa acontecia, e ficou ainda mais triste com o aquele novo fato...

Estava medrosa e muito temia que sua barriga, que antes fervia, agora fosse uma casa de sapo.

E a vida da Charalina tornou-se um pesadelo cheio de horror, até que, numa bela manhã, de sol muito bonito, na sua barriga uma semente germinou.

Tinha um talito tão verde e bonito, só vendo que amor!

Depois, duas folhinhas verdes e rapidamente, sem esperar a primavera, foi logo dando uma flor.

Quando dona Josefina saiu para tomar banho de sol na varanda do fundo da casa, olhou para a Charalina e exclamou:

Meu Deus, que amor!

Correndo, dona Josefina apanhou a Charalina e, como se pedisse perdão, limpou-lhe as paredes de fora, regou a flor sem demora e levou as duas para enfeitarem a mesa da sala.

Hoje, Charalina está feliz e encantada com a nova situação.

Anda até namorando um vaso da casa que faz parte da decoração


(Nelson Albissú



enviada por Ana Correia (contadora de história).




A ZEROPÈIA

Ia uma centopéia com suas cem patinhas pelo caminho quando topou com uma barata. Vendo tantaspatinhas num bicho só, a barata ficou boquiaberta:
- Mas dona centopéia, para que tantas patinhas? A senhora precisa mesmo delas? Olha, eu tenho só seis e são mais que suficientes! Posso fazer tudo, correr, trepar nas paredes, me esconder nos buracos. Ninguém consegue me acertar na primeira nem na segunda chinelada!
- É - respondeu a centopéia -, eu não havia pensado nisso! E olha que tenho essas cem patinhas desde que nasci, cinqüenta de um lado e cinqüenta de outro…
- Como a senhora faz quando tem uma coceira? - perguntou a barata. - Já imaginou o trabalhão, coçando daqui e dali, sem parar? Deve ser um inferno ter tantas patinhas! Por que a senhora não amarra noventa e quatro e fica com seis como eu? Vai ficar muito mais fácil e a senhora vai inclusive correr muito mais, como eu.
A centopéia nem pensou e amarrou noventa e quatro patinhas. Doeu um pouco com todos aqueles nós, mas era necessário, e continuou a andar.
Lá na frente se encontrou com um boi. Quando o boi viu a centopéia andando com seis patas, ficou intrigado:
- Dona centopéia, por que seis patas? Para que tantas? Olhe, eu só tenho quatro e faço o que quero! Corro, participo de touradas, pulo cerca quando quero, sou forte e todo mundo me admira! Por que a senhora não amarra mais duas e fica com quatro? Vai ficar mais ágil e vai correr tanto quanto eu…
A centopéia amarrou mais duas patinhas. Doeu um pouco, já estava quase dando câimbra, mas era necessário, e continuou a andar.
Lá mais na frente, já andando com certa dificuldade, a centopéia se encontrou com o macaco.
Quando o macaco viu a centopéia andando com quatro patas, ficou curioso. Olhou bem, contou e recontou, e não se conteve:
- Mas dona centopéia, por que tanta pata se a senhora pode andar com apenas duas, como eu? Veja como eu faço: pulo de galho em galho, corro, ninguém me pega aqui nesta floresta. Por que a senhora não amarra mais duas patinhas e fica que nem eu?
A centopéia nem pensou, e amarrou mais duas patinhas. Agora só tinha duas patas livres, poderia viver em paz, como a maioria dos bichos da floresta, e se parecia até com as pessoas, podia até pensar em ter nome de gente, como Maria ou Florinda. E continuou a andar, com dificuldade, mas tranqüila. Havia seguido todos conselhos que recebera pelo caminho.
Velhos tempos aqueles em que tinha cem patinhas livres! Quanto trabalho à toa! E continuou a andar. Mas lá na volta do caminho, de repente, viu a dona cobra! A centopéia sentiu um friozinho na barriga.
- Ih! - pensou ela - a dona cobra nem patas têm!
Não deu outra. Quando a cobra viu a centopéia com suas duas patinhas, foi logo parando e dizendo:
- Por que andar com essas duas patas num corpo tão comprido e desajeitado? Será que você não sente que está ridícula andando só com duas patas? E, afinal de contas, para que patas para andar? Não vê como eu corro, escapo, ataco, meto medo, serpenteio, subo em árvores e até nado sem patas? Por que não completa a obra e amarra tudo de uma vez?
- A centopéia, então, amarrou as suas últimas patinhas, pensando que podia ser que
nem a cobra. E não podia. Ali mesmo ficou parada pedindo socorro e gritando por todos os bichos da floresta:
- Ei, dona barata, seu boi, seu macaco, dona cobra! Venham me ajudar! Não consigo mais andar!
Eu, que tinha cem patinhas, deixei de ser uma centopéia e acabei virando uma zeropéia!
A turma da floresta, para consertar a situação, teve então uma idéia, a de fazer um carrinho bem comprido para a centopéia poder se locomover. A centopéia ia virar a primeira zeropéia motorizada da floresta!
- Mas como é que eu vou dirigir esse carro, se eu não tenho mais patinhas?
Foi um drama! Os bichos foram logo discutindo:
- A barata dirige, pois foi ela que mandou amarrar noventa e quatro patinhas de uma vez!
- Não, não, não! Dirige o boi, que mandou amarrar mais duas patas.
- Melhor o macaco, que mandou amarrar mais duas.
- Negativo! Dirige a cobra, que mandou amarrar tudo.
Até que a centopéia se deu conta, pensou bem pensado e disse para todo mundo:
- É, gente, a culpa é minha! Eu não devia ter escutado essa conversa fiada de amarrar patinhas! Eu não sou barata, não sou boi, não sou macaco nem cobra; eu sou é eu mesma, uma centopéia que quase virou uma zeropéia.
A centopéia agradeceu o carrinho, mas mandou a bicharada desamarrar todas as suas patinhas.

E decidiu que o mais importante era ser ela mesma e ter suas próprias idéias na cabeça

Herbert de Souza


enviada por Ana Correia (contadora de história).




Aladino e a lâmpada mágica


Há muitos e muitos anos viviam num distante reino da China a viúva de um pobre alfaiate e seu filho Aladim.
Um dia, quando este brincava na praça, um estrangeiro aproximou-se dele e lhe disse:
- Meu menino, você não e filho do alfaiate Mustafá ?
- Sou, sim,
- respondeu Aladim - mas meu pai já morreu ha muito tempo.
- Pois então eu sou seu tio, meu querido sobrinho! Há muitos anos estou viajando; desejava tanto rever meu irmão, e agora estou sabendo que ele esta morto! Quanto sofrimento para mim!
O estrangeiro tomou a mão de Aladim e pediu-lhe que o levasse a casa de sua mãe.
Lá entregou a boa senhora uma bolsa cheia de ouro, dizendo-lhe que fosse comprar uma comida saborosa para o jantar. Na refeição ele contou que estava viajando ha muito tempo, e descreveu todos os países por ele visitados.
No dia seguinte ele saiu com Aladim e comprou-lhe roupas riquíssimas.
Depois visitaram juntos a cidade, dirigindo-se por fim aos magníficos jardins que a cercavam. Pouco a pouco foram-se afastando da cidade, chegando assim ao sopé de uma montanha.
- Paremos aqui, disse o estrangeiro, pois aqui neste lugar lhe vou
mostrar coisas maravilhosas! Enquanto eu faço um fogo com gravetos, você
vai buscar lenha para fazermos uma grande fogueira.
Aladim logo reuniu uma pilha de galhos secos. O estrangeiro acendeu
então a fogueira, pronunciando palavras magicas. No mesmo instante dali
levantou- se uma fumaça espessa. A terra tremeu um pouco, depois
abriu-se, deixando aparecer uma pedra na qual estava presa uma argola de
ferro.
O estrangeiro suspendeu a pedra e uma escada íngreme apareceu.
- Desça esta escada, disse o estrangeiro, e quando você chegar em baixo
achara um salão. Atravesse-o sem parar um instante. No meio desse salão
ha uma porta que da para um jardim. No meio desse jardim, sobre um
pedestal, esta uma lâmpada acesa. Pegue a lâmpada e traga-a para mim. Se
os frutos do jardim lhe apetecerem, pode colhê-los à vontade.
Em seguida ele colocou um anel no dedo de Aladim, dizendo-lhe que este o
protegeria contra qualquer
perigo. Aladim desceu ao subterrâneo e, sem se deter, foi e apanhou a
lâmpada. Já de volta, ele parou para olhar o jardim e viu que ali havia
frutas muito diferentes das outras. Colheu algumas julgando que fossem
de vidro colorido, quando na realidade eram pérolas, rubis, diamantes
e esmeraldas.
O estrangeiro aguardava com impaciência.
- Meu tio, disse Aladim,
ajude-me a subir, por favor.
- Pois não, querido sobrinho, mas então
você primeiro tem que me dar a lâmpada, pois ela lhe pode atrapalhar
para subir.
- Não atrapalha não, meu tio; assim que estiver em cima, eu lhe entrego
a lâmpada.
E continuaram a teimar sem que nenhum cedesse, até que por fim o
estrangeiro teve um acesso de raiva pavoroso e pronunciou umas palavras
mágicas. A pedra então fechou-se sobre si mesma, e Aladim ficou
prisioneiro no subterrâneo.
O estrangeiro era um grande feiticeiro africano que por meio de suas
mágicas descobrira a existência da lâmpada cuja posse poderia torna-lo
mais poderoso que todos os reis da terra. Porem ele próprio não podia
ir busca-la, por isso recorrera a Aladim.
Vendo que não poderia obtê-la, voltou para a África
no mesmo dia. Aladim ja estava fechado no subterrâneo há três dias,
quando, juntando as mãos para implorar ao céu misericórdia, sem querer
esfregou o anel que o magico lhe dera. Imediatamente um em o medonho
apareceu e disse estas palavras:
- Que desejas ? Estamos prontos a te obedecer, eu e todos os escravos do anel.
Aladim gritou :
- Sejas quem for, tira-me deste lugar!
Mal acabara de pronunciar estas palavras e logo viu- se fora do subterrâneo. Assim que chegou a casa, contou a sua mãe o que lhe acontecera, e pediu-lhe um pouco de comida.
- Ali ! meu filho! Que tristeza! eu não tenho nem um pedaço de pão para lhe dar !
- Pois então, minha mãe, dê-me a lâmpada que eu trouxe, e eu irei vendê-la.
- Esta aqui, meu filho, mas esta muito suja. Vou areá- la; assim talvez dêem mais dinheiro por ela.
Assim que começou a esfrega-la, apareceu um gênio pavoroso que disse com uma voz cavernosa:
- Que desejas? Sou teu escravo, e estou pronto a te obedecer, assim como todos os outros escravos da lâmpada.
A mãe de Aladim. desmaiou de susto. Aladim pegou a lâmpada e respondeu:
- Estou com fome, traz alguma coisa para eu comer !
O gênio desapareceu
e voltou trazendo em enorme bandeja de prata 12 pratos cheios de coisas
deliciosas, pão e duas garrafas de um vinho finíssimo, colocando
tudo sobre a mesa; depois desapareceu.
Muitos dias se passaram durante os quais Aladim e sua mãe recorreram uma
porção de vezes a lâmpada.
Uma manhã, enquanto passeava, Aladim ouviu publicar uma ordem do rei
obrigando o povo a fechar todas as portas e janelas das casas, porque a
princesa sua filha ia sair do palácio e não devia ser vista por ninguém.
Esta proclamação despertou em Aladim grande curiosidade de conhecer a
princesa; tendo-a visto, ficou grandemente impressionado por sua
extraordinária beleza.
Voltando para casa, ele não pode conter seu entusiasmo e disse a sua
mãe:
- Eu vi a princesa Badrulbudur. Amo-a e resolvi pedi-la em casamento.
A mãe de Aladim não pode reprimir gargalhada :
- Ora veja, meu filho ! e
está sonhando !
- Não, minha mãe, não estou. E vou-lhe pedir um favor.
Pegue um vaso de bom tamanho, encha-o com as frutas que eu trouxe do
jardim da lâmpada, e leve- o ao rei.
A mãe de Aladim fez tudo o que lhe pedira Aladim. O rei maravilhou-se
com as pedras preciosas que ela lhe ofereceu e disse-lhe:
- Vá, boa mulher, volte para a sua casa. Diga a seu filho que eu aceito a sua proposta, e que lhe concederei minha filha quando ele me enviar 40 bandejas de ouro maciço cheias de pedras preciosas trazidas por 40 escravos negros acompanhados por 40 escravos brancos, todos vestidos luxuosamente.
Logo que sua mãe lhe contou o que se passara, Aladim chamou o gênio, e
exprimiu-lhe seu desejo.
Pouco tempo depois o gênio lhe trazia os tesouros pedidos.
Aladim apresentou-se ao rei com todo seu séquito, no meio das aclamações
de toda a cidade, e as núpcias se realizaram algum tempo depois com
grandes festas.
Aladim mandou construir pelo gênio um palácio digno da princesa, sua
esposa. O palácio maravilhoso ficou pronto em uma única noite. Era feito
com madeiras preciosas e mármore do mais fino.
No centro, debaixo de uma cúpula maciça de ouro e prata, havia um salão
com 24 janelas incrustadas com as mais belas pedras preciosas. Os jovens
esposos viveram felizes alguns anos ate o dia em que o magico, que nunca
esquecia Aladim e não perdia a esperança de reaver a lâmpada
maravilhosa, soube por suas feitiçarias tudo o que acontecera.
No dia seguinte ele retomou o caminho da China e chegou logo a cidade de
Aladim.
Dirigiu-se imediatamente a casa de um negociante de lâmpadas e
comprou-lhe uma dúzia delas. Colocando- as numa cesta, tomou o caminho
do palácio maravilhoso, gritando:
- Quem quer trocar lâmpadas; velhas por novas.
A princesa Badrulbudur ouviu-o.
- Boa idéia, disse ela as suas aias, neste canto ha uma lâmpada velha,
troquem-na por uma nova !
Uma das aias logo foi e trocou a lâmpada velha pela nova.
O mágico saiu imediatamente da cidade. Assim que
ele chegou ao campo, pegou a lâmpada, esfregou-a e disse ao gênio:
- Eu ordeno que retires o palácio de onde ele esta e que o transportes
para a África.
O gênio executou imediatamente a ordem recebida. Aladim estava caçando.
Quando voltou, qual não foi o seu desespero não encontrando seu
palácio nem sua esposa.
O rei, seu sogro, estava louco de raiva, e ameaçou mata-lo se antes de
40 dias não encontrasse sua filha.
Felizmente Aladim possuía ainda o anel do magico. Esfregou-o e o gênio
apareceu.
- Que desejas ? perguntou o gênio.
- Gênio, leva-me para junto da princesa, minha esposa.
Com a rapidez de um relâmpago, achou-se ele na África, bem debaixo da janela do quarto de Badrulbudur. Uma aia avistou-o e preveniu a princesa, que o reconheceu e ir até junto dela.
Não tiveram dificuldade em se apoderar novamente da lâmpada maravilhosa dando um narcótico ao magico, que a trazia escondida dentro de suas roupas.
O gênio da lâmpada logo foi chamado para transportar o palácio para o lugar onde estava antes e o pai de Badrulbudur ficou radiante, encontrando sua filha.
O mágico foi acorrentado e jogado para servir de pasto aos animais ferozes.
Grandes festas celebraram a volta da princesa e de seu esposo. Os dois viveram muito felizes.
Aladim subiu ao trono depois da morte de seu sogro. Reinou sabiamente com Badrulbudur durante longos e longos anos e deixaram filhos ilustres.


enviada por Ana Correia (contadora de história).


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