sábado, 28 de janeiro de 2012

Contos Sufi

Parábolas

Um Mestre Sufi contava sempre uma parábola no final de cada aula, mas os alunos nem sempre entendiam o seu significado.
- Mestre, - perguntou um deles, certo dia - tu contas-nos contos mas nunca nos explicas o que significam.
- As minhas desculpas. - disse o Mestre - Como compensação, deixa-me que te ofereça um belo pêssego.
- Obrigado, Mestre - disse o discípulo, comovido.
- Mais ainda: como prova do meu afecto, queria descascar-te o pêssego. Permites que o faça?
- Sim, muito obrigado. - disse o discípulo.
- E, já que tenho a faca na mão, não gostarias que eu cortasse o pêssego em pedaços, para que te seja mais fácil comê-lo?
- Sim, mas não quero abusar da tua generosidade, Mestre...
- Não é um abuso; sou eu que me estou a oferecer. Quero apenas agradar-te. Permite-me também que mastigue o pêssego antes de to oferecer...
- Não, Mestre! Não gostaria que fizesses isso! - queixou-se o discípulo, surpreendido.
O Mestre fez uma pausa e disse:
- Se vos explicasse o sentido de cada conto, seria como dar-vos de comer fruta mastigada.


Isa e os Céticos

O Mestre Jalaludin e outros contam que, certo dia, Isa, o filho de Míriam, caminhava pelo deserto próximo de Jerusalém com um grupo de pessoas nas quais a cobiça ainda estava muito enraizada. Rogaram a Isa qua lhes revelasse o Nome Secreto com que ele revivia os mortos. E ele respondeu:
- Se lhes disser, abusarão dele.
- Estamos prontos e preparados para receber tal conhecimento; além do mais, irá reforçar nossa fé - foi a resposta dos que acompanhavam Isa.
- Não sabem o que estão pedindo - replicou Isa, mas lhes disse qual era a Palavra.
Pouco depois, aquelas pessoas seguiam por um lugar deserto quando depararam com um monte de osso descarnados.
- Testemos a Palavra - disseram uns aos outros. E assim fizeram.
Mal a Palavra foi pronunciada, os ossos se recobriram de carne e se transformaram novamente numa voraz besta selvagem que os destroçou. Os que forem dotados de razão compreenderão. Aqueles que a possuem em dose reduzida podem instruir-se por meio deste relato.

O Diamante

O Hindu chegou aos arredores de certa aldeia e aí sentou-se para dormir debaixo de uma árvore. Chega correndo, então, um habitante daquela aldeia e diz, quase sem fôlego:
- Aquela pedra! Eu quero aquela pedra.
- Mas que pedra? - pergunta-lhe o Hindu.
- Ontem à noite, eu vi meu Senhor Shiva e, num sonho, ele disse que eu viesse aos arredores da cidade, ao pôr-do-sol; aí devia estar o Hindu que me daria uma pedra muito grande e preciosa que me faria rico para sempre.
Então, o Hindu mexeu na sua trouxa e tirou a pedra e foi dizendo:
- Provavelmente é desta que ele lhe falou; encontrei-a numa trilha da floresta, alguns dias atrás; podes levá-la!
E assim falando, ofereceu-lhe a pedra. O homem olhou maravilhado para a pedra. Era um diamante e, talvez, o maior jamais visto no mundo. Pegou, pois, o diamante e foi-se embora. Mas, quando veio a noite, ele virava de um lado para o outro em sua cama sem conseguir dormir. Então, rompendo o dia, foi ver novamente o Hindu e o despertou dizendo:
- Eu quero que me dê essa riqueza que lhe tornou possível desfazer-se de um diamante tão grande assim tão facilmente!

O Sábio de Gorgán e a Gata

Havia um grande sábio que vivia em Gorgán. Tinha em sua casa uma gata que o queria muito. Estava sempre junto a ele, e se não, se acocorava no tapete de oração. Ia livremente à cozinha, pois sabiam que nunca tocava em nada, contentando-se com o que lhe davam.
Pois bem, um dia ao entardecer, foi à cozinha e roubou um pedaço de carne da panela. O servo do sábio se deu conta do ocorrido e lhe bateu. A gata, magoada, colocou-se em um canto demonstrando seu descontentamento. O sábio perguntou pela gata a seu servo, que contou-lhe o que aconteceu. Então, chamou a gata e disse-lhe: "Por que fizeste isso?"
A gata foi-se e retornou por três vezes, trazendo seus gatinhos recém nascidos. Colocou-os aos pés do sábio, e triste refugiou-se em uma árvore, abrindo os olhos bem grandes e guardando silêncio. O sábio dirigiu-se aos que o rodeavam, dizendo-lhes:
"O delito desta gata é perdoável, pois não cometeu-o pensando em si mesma. Sua conduta não tem nada de surpreendente, pois o amor materno é algo prodigioso. Enquanto não se tem filhos, não se pode compreender essa solicitude. Este pobre animal, privado da palavra, certamente sofreu muito. Peça-lhe perdão, e sua ira desaparecerá".
Coisa que o servo fez, mas sem êxito. O sábio, por sua vez, falou-lhe, rogando-lhe que descesse da árvore. Em seguida, a gata desceu e acocorou-se a seus pés. Todos os assistentes deram razão ao pobre animal e aderiram a gratidão daquele doce ser.

O Credo do Amor

Um dirigiu-se a porta da amada e bateu. Uma voz perguntou: 'Quem está aí?'
Ele respondeu: 'Sou Eu.'
Disse a voz: 'Não há lugar para Mim e para Ti.'
Fechou-se a porta. Após um ano de solidão e privações, ele voltou e bateu. Uma voz vinda de dentro perguntou: 'Quem está aí? '
O Homem disse: 'És Tú.'
A porta abriu-se para ele.
De Jalaluddin Rumi

O Gramático e o Dervixe

Numa noite escura um dervixe passava junto a um poço seco, quando do interior do mesmo brotou uma chamado de socorro.
- Que será? - indagou o dervixe, olhando para o fundo do poço.
- Sou um gramático e infelizmente, por desconhecer o caminho, caí neste poço profundo, em que estou agora quase imobilizado - respondeu o outro.
- Aguenta firme aí, amigo. Vou buscar uma escada e corda - gritou o dervixe.
- Um momento por favor! - exclamou o gramático.
- Sua gramática e pronúncia são incorrectas, seria bom que as corrigisse.
- Se isso é mais importante que o essencial será melhor que você permaneça onde está, até que eu tenha aprendido a falar com elegância e propriedade.
E após dizer tais palavras, o dervixe seguiu seu caminho.

A Promessa

Certo dia, um homem afligido por problemas pessoais prometeu solenemente que se os mesmos fossem solucionados sua venderia casa e doaria o produto da venda aos pobres. Chegou finalmente a ocasião de cumprir a promessa. Mas como não desejava mais desfazer-se de tanto dinheiro, pensou num meio de contornar a situação. Colocou a casa à venda por uma moeda de prata. Mas junto com a casa o comprador teria que adquirir um gato. E o preço pedido pelo animal fora fixado em dez mil moedas de prata.
Apareceu alguém que comprou a casa e o gato. Aí o antigo dono deu a moeda de prata aos pobres e embolsou as dez mil outras.


Quando a Morte Chegou a Bagdá

O discípulo de um sufi de Bagdá estava certo dia sentado a um canto de uma hospedaria, quando ouviu dois personagens conversarem. Pelo que pôde ouvir, percebeu que um deles era o Anjo da Morte.
- Tenho várias visitas para fazer nesta cidade durante as próximas três semanas - dizia o anjo a seu companheiro.
- Aterrorizado, o discípulo procurou ocultar-se até que aqueles dois partissem. Então, apelando à sua inteligência para resolver o problema de como frustar uma possível visita da morte, concluiu que, caso se mantivesse distante de Bagdá, não seria vitimado. Dessa ideia à resolução de alugar um cavalo, o mais veloz ali existente, foi apenas um passo. O discípulo montou no animal e picando esporas cavalgou noite e dia rumo à distante cidade de Samarkand. Enquanto isso, a morte se encontrou com o mestre sufi e conversaram a respeito de várias pessoas.
- Por falar nisso, onde está aquele seu Discípulo? - Indagou a morte.
- Deve estar em algum lugar desta cidade, empregando seu tempo em contemplação, talvez numa hospedaria - Retrucou o sufi.
- Que estranho... - disse o Anjo da Morte. - Ele se acha em minha lista. Sim, aqui está: tenho que recolhê-lo dentro de quatro semanas, nada menos que em Samarkand.

Oração

Sufi Bayazid nos conta, o seguinte de si mesmo :
"Na juventude, eu era um revolucionário e assim rezava: 'Dai-me energia, ó Deus, para mudar o mundo!'
Ao chegar à meia-idade, notei que metade da vida já passara sem que eu tivesse mudado homem algum.
Então, mudei minha oração, dizendo a Deus: 'Dai-me a graça, Senhor, de transformar os que vivem comigo dia a dia, como minha família e meus amigos; com isso já ficarei satisfeito'
Agora que sou velho e tenho os dias contados, percebo bem quanto fui tolo assim rezando.
Minha oração, agora, é apenas esta: 'Dai-me a graça, Senhor, de mudar a mim mesmo'
Se eu tivesse rezado assim, desde o princípio, não teria esbanjado minha vida."

O Cachorro, o Bordão e o Sufi

Um homem vestido como um sufi caminhava certo dia pela estrada quando viu um cachorro à beira do caminho, ao qual golpeou duramente com seu bordão. O cachorro, ganindo de dor, correu à procura do grande sábio Abu-Said. Arrojando-se a seus pés e mostrando sua pata ferida, clamou por justiça contra o sufi que o maltratara tão cruelmente. O sábio chamou a vítima e o acusado. Fitando o sufi, ele disse:
- Ó insensato! como é possível tratar assim um pobre animal? Veja bem o que você lhe fez!
- A culpa não me cabe, e sim ao cão. Não lhe bati por mero capricho, mas sim por ter sujado meu manto.
Mas o cachorro persistia em sua queixa. Então o venerável sábio disse ao cachorro:
- Em vez de aguardar a Recompensa Final, permita que lhe dê uma compensação pela sua dor.
Ao que o cachorro retrucou:
- Grande e sábia criatura, quando vi este gomem ataviado como um sufi, pude deduzir que não me faria mal algum. Em troca, se eu tivesse visto um homem vestido de maneira comum, naturalmente que me afastaria dele. Meu verdadeiro erro foi supor que a aparência exterior de um homem devotado à verdade representava segurança. Se deseja que ele seja castigado, despoje-o da vestimenta dos Eleitos. Retire-lhe os paramentos dos servos da Virtude...
O cachorro estava num certo Degrau do Caminho para a verdade. É um erro crer que um homem deve ser melhor do que aparenta.

O pássaro indiano

Um mercador mantinha um pássaro numa gaiola. Estando de partida para a Índia, país do pássaro, perguntou-lhe se queria algo de lá. O pássaro lhe pediu sua liberdade, mas esta lhe foi negada. Então solicitou ao mercador que fosse a uma floresta na Índia e que anunciasse seu cativeiro aos pássaros livres que ali se encontrassem. O mercador assim fez e mal se referira ao seu cativo, um pássaro selvagem semelhante ao que ele mantinha na gaiola caiu ao chão da árvore onde pousara, sem sentidos.
Pensando que o pássaro fosse parente do seu canário engaiolado, o mercador ficou pesaroso por ter sido o causador daquela morte. Regressou a seu lar e então o pássaro cativo perguntou-lhe se trazia boas notícias da Índia.
- Receio que minhas notícias sejam más. Um de seus parentes teve um colapso e caiu morto a meus pés quando anunciei que você estava preso numa gaiola.
Mal essas palavras foram pronunciadas, o pássaro do mercador sofreu um colapso e caiu no fundo da gaiola.
- A notícia sobre a morte de seu parente também lhe trouxe a morte - murmurou o mercador.
Desolado, recolheu o pássaro e o colocou no rebordo da janela. Imediatamente o pássaro reviveu e voou para uma árvore próxima.
- Pode perceber agora - disse o pássaro - que o que você interpretou como uma tragédia era, na verdade, um boa notícia para mim. E de como a mensagem, ou seja, a indicação de como me comportar para obter minha liberdade, me foi transmitida por meio de você, meu captor.
Dito isso, se afastou num voo largo, livre por fim.

Estabelecimento de uma tradição

Havia uma vez uma cidade formada por duas ruas paralelas. Um dervixe passou de uma rua para a outra, e assim que alcançou-a, as pessoas notaram que havia lágrimas nos olhos dele.
- Morreu alguém na outra rua! - gritou um homem e logo as crianças da vizinhança fizeram coro a essa exclamação.
Mas o que acontecera fora algo muito diferente. O dervixe estivera descascando cebolas. Em poucos segundos o eco do grito já alcançara a primeira das duas ruas. E os adultos de ambas se preocuparam e ficaram tão assustados que não se animaram a investigar devidamente as causas daquela agitação. Um homem sensato e sábio tentou chamar à razão as pessoas das duas ruas, indagando-lhes por que não se comunicavam para apurar o acontecido. Muito confusos para apreender o sentido daquelas palavras, alguns disseram:
- Pelo que entendemos há uma epidemia muito séria na outra rua.
Esse boato também se propagou como um incêndio incontrolável, levando a população daquela rua a pensar que a outra estava destinada a morrer. Quando foi possível restabelecer certa ordem, ambas as comunidades só pensaram numa saída: emigrarem para salvar-se. E foi assim que, de repente, as duas ruas ficaram vazias de seus habitantes. Ainda hoje, vários séculos passados, a cidade permanece deserta, e não muito distante dali há duas aldeias. Cada uma possui sua própria tradição, sendo que ambas estabeleceram a partir de um povoado construído por pessoas fugidas de uma cidade condenada por um mal desconhecido, em tempos remotos.

A ilha deserta

Certa vez um homem muito rico, de natureza boa e generosa, queria que o seu escravo fosse feliz. Para isso lhe deu a liberdade e um navio carregado de mercadorias.
- Agora você está livre - disse o homem. - Vá e venda esses produtos em diversos países e tudo o que conseguir por eles será seu.
O escravo liberto embarcou no navio e viajou através do imenso oceano. Não havia viajado muito tempo quando caiu uma tempestade. O barco foi arremessado violentamente contra os rochedos e se fez em pedaços. Tudo o que havia a bordo se perdeu. Somente o ex-escravo conseguiu se salvar, porque, a nado, pôde alcançar a praia de uma ilha próxima. Triste, abatido e só, nu e sem nada, o ex- escravo caminhou até chegar a uma cidade grande e bonita. Muita gente se aproximou para recebê-lo, gritando:
- Bem-vindo! Bem-vindo! Longa vida ao rei!
Trouxeram uma rica carruagem, onde o colocaram e escoltaram-no até um magnífico palácio. Lá muitos servos se reuniram ao seu redor, vestiram-no com roupas reais e todos se dirigiam a ele como soberano, em total obediência à sua vontade. O ex-escravo, naturalmente, ficou feliz e, ao mesmo tempo, confuso. Ele desejava saber se estava sonhando ou se tudo o que via, ouvia ou experimentava não passava de uma fantasia passageira. Convenceu-se, finalmente, de que o que estava acontecendo era real. E perguntou a algumas pessoas que o rodeavam, de quem gostava, como havia chegado àquela situação.
- Afinal - disse, - sou um homem de quem vocês nada conhecem, um pobre e despido vagabundo que nunca viram antes. Como podem transformar-me em seu governante? Isto me causa muito mais espanto do que possa dizê-lo.
- Senhor - responderam - esta ilha é habitada por espíritos. Há muito tempo eles rezaram para que lhes fosse enviado um filho do homem para governá-los, e suas preces foram ouvidas. Todos os anos é enviado um filho do homem. Eles o recebem com grande dignidade e o colocam no trono. Porém seu 'status' e seu poder acabam quando se completa o ano. Então lhe tiram as vestes reais e o põe a bordo de um barco que o leva para uma grande ilha deserta. Lá, a não ser que antes tenha sido sábio e tenha se preparado para esse dia, não encontra amigos, não encontra nada: vê-se obrigado a passar uma vida aborrecida, solitária e miserável. Elege-se então um novo rei, e assim acontece ano após ano. Os reis que o antecederam foram descuidados e não pensaram. Desfrutaram plenamente do seu poder, esquecendo- se do dia em que tudo acabaria.
Essas pessoas aconselharam ao ex-escravo a ser sábio e permitir que suas palavras permanecessem dentro do seu coração. O novo rei ouviu tudo atentamente, e lamentou ter perdido o pouco tempo que havia passado desde que chegara à ilha. Pediu ao homem de conhecimento que havia falado:
- Aconselhe-me, ó Espírito da Sabedoria, como devo preparar-me para os dias que chegarão no futuro.
- Nu você chegou até nós - disse o homem - e nu será enviado à ilha deserta da qual lhe falei. Agora você é rei e pode fazer o que quiser. Por isso mande trabalhadores à ilha e permita-lhes que construam casas, preparem a terra e tornem belas as redondezas. Os terrenos áridos devem ser transformados em campos frutíferos. As pessoas deverão ir viver lá e você estabelecerá um reino para si mesmo. Seus próprios súditos estarão esperando quando você chegar para dar-lhe as boas-vindas. O ano é curto, o trabalho é longo: seja diligente e enérgico.
O rei seguiu o conselho. Mandou trabalhadores e materiais para a ilha deserta, e antes de findar a vigência de seu poder a ilha se transformou num lugar fértil, aprazível e atraente.
Os governantes que o tinham precedido haviam antecipado o fim de seu tempo com medo, ou afastavam este pensamento se divertindo. Ele, porém, o aguardava com alegria, uma vez que então poderia começar sobre uma base de paz permanente e felicidade.
O dia chegou. O escravo liberto que tinha sido feito rei foi despojado de sua autoridade. Ao perder seus trajes reais, perdeu também seus poderes. Nu, foi colocado num barco, e as velas inflaram em direcção à ilha. Porém quando se aproximou da praia as pessoas que tinham sido enviadas antes para lá vieram para recebê-lo com música, canções e muita alegria. Fizeram- no seu governante, e ele viveu em paz.

Ahmad Mussain e o Imperador

O Imperador Mahmud El-Ghazna passeava um dia com o sábio Ahmad Mussain, que tinha reputação de ler pensamentos. O Imperador, há algum tempo, vinha tentando que o sábio fizesse diante dele uma demonstração de sua capacidade. Como Ahmad se recusava a fazer a sua vontade, Mahmud havia decidido recorrer a um ardil para que o sábio, sem o perceber, exercesse seus extraordinários dotes na sua presença.
- Ahmad — chamou o Imperador.
- Que desejas, Senhor?
- Qual é o ofício do homem que está perto de nós?
- É um carpinteiro.
- Como se chama?
- Ahmad, como eu.
- Será que comeu alguma coisa doce recentemente?
- Sim, comeu.
Chamaram o homem e ele confirmou tudo o que o sábio havia dito.
- Tu - disse o Imperador - te recusaste a fazer uma demonstração dos teus poderes na minha presença. Percebeste que te forcei, sem que o notasses, a demonstrar tua capacidade, e que o povo te transformaria num santo se eu contasse em público as revelações que me fizeste? Como é possível que continues ocultando a tua condição de sufi e pretendas passar por um homem qualquer?
- Admito que posso ler pensamentos — concordou Ahmad — mas o povo não percebe quando faço isso. Minha dignidade e meu amor-próprio não me permitem exercer esse dom com propósitos frívolos. Por isso meu segredo continua ignorado.
- Mas admites que agora mesmo acabas de usar teus poderes?
- Não, absolutamente não.
- Então como pudeste responder minhas perguntas correctamente?
- Facilmente, Senhor. Quando me chamaste, esse homem virou a cabeça, o que me indicou que seu nome era igual ao meu. Deduzi que era carpinteiro porque, neste bosque, só dirigia o olhar para árvores aproveitáveis. E sei que acabara de comer alguma coisa doce, porque vi que estava espantando as abelhas que procuravam pousar nos seus lábios. Lógica, meu Senhor. Nada de dons ocultos ou especiais.


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