Um certo rei pensava ser uma vaca e tinha completamente esquecido que era um ser humano.
Por isso ele mugia como um touro e implorava:
"Vinde, levai-me, abatei-me e fazei uso de minha carne."
Mandava embora toda a comida que lhe era trazida e nada comia.
"Por que não me soltais nas verdes pastagens para que eu possa comer conforme uma vaca deve alimentar-se?", perguntava.
Como já não comia coisa alguma, foi perdendo peso até ficar nada mais que um esqueleto ambulante.
Uma vez que nenhum método ou remédio ajudavam, Avicena foi chamado a fim de dar conselhos.
Ele mandou dizer ao rei que um açougueiro estava a caminho a fim de abatê-lo, cortar sua carne e entregá-la ao povo para comer. Quando o pobre enfermo escutou isso, ficou indescritivelmente feliz e com imenso anelo aguardou sua morte.
No dia determinado, Avicena aproximou-se do rei. Balançou o facão de açougueiro e gritou com uma voz terrível:
"Onde está a vaca, para que eu possa finalmente sacrificá-la?".
O rei emitiu um mugido para que o açougueiro percebesse onde se encontrava o animal que seria sacrificado. Então Avicena ordenou em voz alta:
"Tragam o animal aqui; amarrem-no para que eu possa decepar sua cabeça!"
"Porém, antes de fazer cair o facão, verificou o lombo e a barriga do animal, observando sua carne e gordura, como os açougueiros geralmente fazem."
Mas então voltou a gritar com altíssima voz:
"Não, não, essa vaca não está ainda no ponto de ser abatida. Está magra demais. Levem-na e engordem-na. Quando estiver com o peso correto eu voltarei."
O homem enfermo passou a comer tudo o que lhe era oferecido, pois tinha a esperança de ser abatido em breve. Ganhou peso, sua condição apresentou uma melhora visível e ele recuperou sua saúde sob os cuidados de Avicena.
Do livro: O Mercador e o Papagaio - Nossrat Peseschkian - Papirus Editora
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