A sala era muito grande, toda circundada pelas janelas altas, com vidros coloridos.Quando o sol batia ali parecia que um grande arco íris estava dentro da sala. Era ali, que estava o imenso piano. De cor preta com imensa cauda brilhando sempre. O banquinho que sempre o acompanhava era da mesma cor, preto brilhante e com o estofado vermelho. Orgulhava-se de acompanhar o piano seu grande senhor. Por cima deste não havia nada.Não colocavam vasos nem porta retratos que era para não arranhar o móvel tão maravilhoso. E o som que dali saia então, era divino. Mas com tudo isto o piano estava triste. O som já não era o mesmo. O que estaria acontecendo?
O banquinho andava meio nervoso, pois percebendo toda esta tristeza não podia fazer nada. Ah, pensou, vou perguntar direto para ele. Assim o fez.
- Diga-me senhor piano o que está acontecendo? Sinto sua tristeza seu som não está igual.
- É, meu amigo, as coisas não vão bem.
- Por quê? Posso saber ou ajudar?
- Agradeço a atenção, banquinho, mas já falei até com o pedal que lá debaixo vê tudo. Até as cordas já me perguntaram o que estaria acontecendo. Sei o que é mas duvido que eu consiga resolver.
- Diga-me então, quem sabe posso ajudar.
- São as teclas, meu caro. Estão brigando entre elas por causa da flanelinha. Não querem mais a flanelinha encima delas o tempo todo. Assim sendo ficam irritadas e não prestam atenção no serviço. Não tenho culpa já disse a elas, mas está difícil. Estão misturando tudo, até as teclinhas pretas entraram no joguinho delas.
- Ah, sr Piano, e agora o que vai fazer?
- Não sei, estou pensando ainda para ver se resolvo o caso.
Passaram-se alguns dias e a situação era a mesma.
Foi então que na sala apareceu o espanador. Grande com seus penachos tirando o pó de tudo.
- Pronto está aí a solução, vou pedir para que ele ajude as teclas, poderemos então retirar a flanelinha.
E assim foi feito. Estavam livres sem a flanelinha agora, já podiam trabalhar. Mas no cantinho da sala a flanelinha toda sentida chorava o lugar que havia perdido. Com que carinho cobrira as teclas por muitos anos, e agora não servia para mais nada. Foi então que alguém ali na sala disse:
- Puxa, que maravilha era a flanelinha que eu estava procurando! Gosto de ter uma sempre no meu carro e esta é ótima!
E lá se foi a flanelinha toda contente, pois iria ser útil novamente. É amiguinho, precisamos tomar cuidado para não fazermos trocas desnecessárias, magoando até quem nos ajudou por muito tempo. Mas pensando bem sempre há alguém que precisa do que descartamos. É sempre melhor dar do que jogar fora.
Ah, as teclas se arrependeram, pois o espanador era meio brusco e muitas vezes arranhava as pobrezinhas que já sentiam falta da flanelinha sempre macia e delicada.
Portanto preste muita atenção numa possível troca, quando estamos muito bem e procuramos novidades às vezes mais tarde reconhecemos que tínhamos o melhor.
Marlene B. Cerviglieri
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